A humanidade esteve presa nessa encruzilhada por milhares de anos. Em consequência, as economias permaneceram congeladas. A maneira de sair da armadilha só foi descoberta na era moderna, com o surgimento de um novo sistema baseado na confiança no futuro. Nele, as pessoas concordaram em representar bens imaginários – bens que não existem no presente – com um tipo especial de dinheiro chamado ‘crédito’. O crédito nos permite construir o presente à custa do futuro. Baseia-se no pressuposto de que nossos recursos futuros serão muito mais abundantes do que nossos recursos presentes. Se pudermos construir coisas no presente usando receitas futuras, abre-se diante de nós uma série de novas oportunidades maravilhosas.
No passado, pode se dizer que as pessoas raramente queriam conceder muito crédito porque não confiavam que o futuro seria melhor do que o presente.
Se o bolo global permanecia do mesmo tamanho, não havia margem para crédito. O crédito é a diferença entre o bolo de hoje e o bolo de amanhã, um bolo que cresce.
Crédito é confiança, é construir o presente à custa do futuro.
A sociedade atual está estruturada e dependente do crédito. A expansão e a especialização crescente das atividades econômicas devem-se aos seus benéficos efeitos. O crédito importa em um ato de fé, de confiança do credor. Daí a origem etimológica da palavra – creditum, credere, assinala Requião.
O crédito não cria riquezas, mas fomenta a criação de riquezas, injetando recursos antecipadamente nas atividades econômicas. O crédito não cria capitais, como a troca não cria as mercadorias, ‘o crédito não é mais do que a permissão para usar do capital alheio’ (Stuart Mill), “se todo o crédito constituísse verdadeiramente uma riqueza, bastaria que cada brasileiro emprestasse a sua riqueza ao vizinho para duplicar a fortuna”, alerta Waldirio Bulgarelli.
Dito de outra forma, o crédito fomenta a produção de riquezas, “não faltam, no mundo, pessoas empreendedoras, inventoras, agricultoras e até obreiras, que sabem tirar partido dos capitais quando lhes toca a felicidade de os ter. Pois, graças ao crédito, é que os capitais chegam a passar às mãos daqueles que estão no caso de os empregar produtivamente, para maior proveito de cada um deles, e do país inteiro.
De fato, se os capitais não pudessem passar de uma pessoa a outra e se cada uma ficasse reduzida a empregar o que possui pessoalmente, andaria sem emprego enorme massa de capitais”. Enfim:
É difícil imaginarmos a vida econômica sem o crédito. Isso implicaria na obrigatoriedade de comprarmos à vista todo tipo de bem e serviço de que necessitássemos. Certamente, compraríamos muito pouco – e, do outro lado, as vendas seriam bastante reduzidas, o que restringiria a produção. Da mesma forma, o empresário teria que contar, para o desenvolvimento de suas atividades, única e exclusivamente com seus próprios recursos.
Viva o crédito!
Antonio Carlos Donini, Empresa Simples de Crédito - ESC, Editora Klarear
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